Suplementar com BCAA é uma boa alternativa?

BCAAs: mito ou verdade?

Começamos nosso breve texto com a frase do Premio Nobel de Literatura André Gide, “Tudo já foi dito antes, mas desde que ninguém escutou, nós temos que voltar atrás e começar tudo novamente”. Venho falando sobre a eficácia da suplementação com BCAAs há mais de vinte anos em minhas aulas, cursos, seminários, palestras, etc., mas parece que as pessoas não entendem, ou não querem entender. Pois bem, vamos começar tudo novamente, ou melhor, vamos analisar a mais recente publicação sobre o tema, a excelente revisão publicada essa semana por ninguém mais, ninguém menos que o Dr. Robert Wolfe (Não conhecem??? Hummm…deveriam!!!). Além desse renomado pesquisador da University of Arkansas for Medical Sciences, outros como Kevin Tipton, do Metabolism Division of the Department of Surgery at the University of Texas, ou ainda, uma das maiores autoridades do planeta sobre proteínas, o Dr. Stuart Phillips, na McMaster University no Canada (também não conhecem???…. Vixe!!!), já desmistificaram o mito da suplementação com BCAA sobre o desempenho físico, recuperação pós-exercício ou hipertrofia muscular, desde o início da década dos anos 2000. Mas como os pesquisadores brazucas não tem muito crédito (principalmente entre os brazucas), vamos aos FATOS e EVIDÊNCIAS! Começando pela boa e velha bioquímica básica, existem erm mamíferos, vinte aminoácidos que compõem a proteína muscular. Nove desses vinte, são considerados essenciais (ou indispensáveis, AAE), o que significa, que o organismo não pode produzi-los em quantidades significativas, sendo então necessário ingeri-los através de uma dieta adequada As proteínas musculares estão em constante renovação (turnover), o que significa que a síntese de novas proteínas está ocorrendo em continuidade para reparar as proteínas perdidas em consequência da degradação protéica muscular (breakdown; DPM) Muito bem, os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs ou AACRs, vou usar BCAAs para não perder o foco), são constituídos por três aminoácidos, leucina, isoleucina e valina. A leucina, não é somente um aminoácido precursor da síntese protéica (SP), mas também um sinalizador intracelular de uma complexa cascata de reações que envolvem a síntese de proteínas musculares (SPM). A hipótese de que os BCAAs teriam a capacidade de estimular a SPM tem sido postulada há mais de 35 anos, desde estudos realizados por Buse (1981), Garlik e Grant (1988), Kobayashi e colaboradores (2006), dentre outros. Entretanto, esses estudos foram realizados com ratos, e tem uma relevância muito limitada em humanos. O grande problema é que o apelo comercial para a venda de BCAAs para humanos, vem gerando um negócio (business) de vários milhões de dólares e ao marketing desse produto é creditado a promessa de estimular a SPM e provocar uma resposta ana-
bólica. Porém, o consumo de BCAAs sozinhos, ou seja, sem os outros AAE, poderão aumentan a SPM no estado pós-absortivo pelo aumento da eficiência em reciclar os AAE da degradação protéica de volta a SP em oposição em serem lançados no plasma ou oxidados. Isso porque todos os AAE são necessários para a SP e os AAE não podem ser produzidos pelo nosso organismo. Se apenas 3 dos AAE forem consu midos, como é o caso do consumo de BCAAs, então a DP será a única fonte de precursores requeridos para a SPM, e isso é teoricamente
impossível, ou seja, consumir BCAAs para criar um estado anabólico em que a SPM exceda a DPM. O fato é que a ingestão de BCAAs isoladamente, não estimulará a SPM uma vez que outros Alguns pontos importantes: a) ingestão de BCAAs em conjunto com outros alimentos é limitada e não conclusiva; b) quando os BCAAs foram administrados com um mistura isonitrogenada, com treonina, metionina e histidina, juntamente com carboidratos (CHO)
em humanos, a taxa de SPM diminuiu em ambos os grupos, não indicando nenhum papel exclusivo aos BCAAs; c) similarmente, o consumo de BCAAs com CHO apóso treinamento de força, não aumentou os fatores de sinalização anabólica, quando comparado a ingestão de CHO sozinho, e ainda, não há evidências que suportem a ingestão de BCAAs com CHO para aumentar a resposta anabólica AAE serão necessários. Em constraste com os efeitos interativos entre BCAAs e CHO, parece que a ingestão de BCAAs com alimentos proteicos podem aumentar o efeito anabólico. Por exemplo, foi demonstrado que a adição de 5g de BCAAs a uma bebida contendo 6.25g
de whey protein (WP) aumentou a SPM a um nível comparado com a ingestão de 25g de WP Esse resultado sugere que um ou mais dos BCAAs pode estar limitando a SPM pelo WP ou que a dose extra de BCAAs induziu a um grande potencial para a resposta anabólica aos
fatores anabólicos para a SPM. Em ambos os casos, a resposta da ingestão de BCAAs em conjunto com proteínas intactas é diferente do efeito causado pela ingestão de BCAAs isoladamente, desde que as proteínas intactas possuem todos os AAE necessários para a produção de novas proteínas.
Por outro lado, a resposta individual dos BCAAs pode ser diferente da combinação dos três por uma série de razões.Evidencias indicam que a
ingestão de leucina sozinha pode exercer uma resposta anabólica, enquanto que não há evidências quanto ao consumo isolado de isoleucina ou valina. Assim, pode se esperar que o consumo de leucina sozinha seja mais eficaz que a combinação de todos os BCAAs.Entretanto, há duas limitações
significantes para a suplementação dietética de leucina isolada: 1) a mesma limitação para a estimulação da SPM com para os BCAAs sozinhos sem os outros AAE; 2) a elevação da concentração plasmática de leucina, ativa as vias metabólicas da oxidação de todos os BCAAs. Como resultado, a ingestão de leucina isolada, diminuiria a concentração de ambos, valina e isoleucina.A disponibilidade de valina
e isoleucina podem apresentar fatores limitantes para a SPM quando a leucina for consumida isoladamente. Pode ser por isso que estudos crônicos com suplementação com leucina têm
falhado em apresentar resultados positivos.
Há ainda uma competição por 10 proteínas de membrana que transportam os AEE para dentro da célula, a exemplo do Sistema L, que transporta 7 AAE para o interior celular. Os BCAAs competem com outros AAE pelo mesmo transportador, a exemplo da fenilalanina, e essa competiçao pode afetar a disponibilidade de
outros AEE. 

Como exemplo dessa competição, pode ser que a leucina isoladamente possa ter
um efeito transitório para a SPM, ao passo que os BCAAs não conseguiriam esse efeito
Há outros postulados sobre
suplementação com BCAAs e Fadiga Central, hipotese levantada belo saudoso e brilhante Dr. Eric Newsholme, que infelizmente foi refutada há 18 anos.
Portanto meus caros seguido res, alunos e afins, como sempre digo e repito
temos dois caminhos a seguir, o da ciência e o da propaganda, escolha o seu!

Repost @proftacitojunior
Referencia:
Wolfe Journal of the International Society of Sports Nutrition (2017) 14:30 DOI 10.1186/ s12970-017-0184-9

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